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terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Andando


Sempre gostei de andar , já gostava na minha terra , aos sábados de manhã ia pela rua , sentindo o cheiro a pão acabado de fazer , cumprimentando todos os vizinhos , sentindo o pulsar da vida e da natureza .
Sempre me fez bem andar , e já em Lisboa todos os dias ia a pé para o Liceu , ouvindo música , cantarolando , olhando as pessoas e o movimento das ruas , um para lá e para cá apressada e constante e eu lá seguia ao meu ritmo e à minha maneira .
E ouve uma altura na minha vida em que seguia pela rua de olhos postos no chão , nunca os levantava , tinha medo do que podia ver se olha-se muito, tinha medo dos outros , dos que não conhecia nem queria conhecer , tinha acabado de descobrir um mundo cruel e violento , e esse mundo eu não queria , não podia olhar . Seguia sozinha no meu mundo e olhava um mundo de betão cinzento e estranho , as calçadas despidas e sujas , e muitas vezes chorava por dentro e gritava sem palavras .
Até que um dia alguém levantou o meu rosto , e fez-me olhá-lo nos olhos , e fez-me ver que para além da mágoa , da raiva , da solidão , existe o amor , um porto seguro , onde se encontra um por do sol sem igual , descobri de novo o amor, as pessoas boas e lindas de alma , descobri e aprendi a gostar de novo de mim , porque alguém me viu , para além daquilo que eu mostrava , alguém me viu , para além daquilo que eu deixava ver , alguém me amou , apesar de eu já não acreditar no amor , alguém me fez sentir bonita de novo , apesar de eu me achar feia . A partir desse dia passei a seguir pelas ruas , olhos nos olhos , segura de mim e de mão dada com o amor . Hoje gosto de caminhar , faz-me bem à alma , quando necessito pensar , quando necessito desenvolver ideias , ou apenas ver o mundo lá fora . Sozinha ou acompanhada , mas sempre , sempre de cabeça erguida .

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