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terça-feira, 12 de outubro de 2010

Um dia ele vem...

Todos os dias Maria espera por ele , sentada na sua cadeira , de olhos postos na porta , com aquele ar de menina abandonada , e de sofrimento profundo , um sofrimento que só quem já foi um dia abandonado por aqueles que mais amou na vida , conhece .
Maria teve o seu filho , numa altura em que não se podia sequer imaginar uma mãe solteira , mas contra tudo e todos , Maria decidiu ter aquele filho , um filho renegado pelo próprio pai e por toda a família , um filho de pai incógnito , numa sociedade dos anos 50 ultra - conservadora .
Maria lutou e lutou, pelo maior amor da vida de uma mulher , lutou para conseguir o emprego , que ninguém lhe queria dar , porque era mãe solteira e uma mulher de má vida , na boca de muitos , lutou para transmitir bons princípios e valores morais ao filho , lutou para que o filho nunca se senti-se diferente dos outros meninos da escola , lutou para que nunca lhe falta-se nada , lutou contra o preconceito e se sofria era sempre em silêncio , na escuridão do seu quarto , nunca o demonstrava ao filho , pois não queria que ele sofresse também com a maldade deste mundo , lutou para ser Mãe e Pai, e quando o filho lhe perguntava " Mãe porque é que eu não tenho pai como os outros meninos da escola ?" Maria abraçava-o apertava-o contra si dava-lhe mil beijinhos e dizia-lhe " mas tens-me a mim, isso basta , o resto não interessa " .
O Filho cresceu , e cada dia Maria amava mais e mais aquele menino , que era a sua vida , e foi com orgulho acrescido que Maria viu entrar o filho para a Faculdade , acabar o curso de advocacia , comprar o 1º carro , casar , ter filhos .
Mas cada vez o filho estava , mais longe e distante , uma distância no e do coração , e Maria cada vez o via menos , um dia Maria adoeceu, não podia mais ficar sozinha , naquela casa vazia , então o filho levou-a para um lar , " era a decisão mais correcta " dizia ele , mas Maria não percebia , sentia-se só e abandonada , ela que nunca o abandonara , e que jamais o faria .
Maria já não via o filho há mais de um ano , e todos os dias esperava por ele , carregava no rosto , todas as rugas da vida difícil que tivera , e um ar de sofrimento de alguém que não merece este abandono , porque Maria deu a sua vida a alguém que afinal não a merecia , morreu em vida , pelo próprio filho , e não existe no mundo maior desgosto , do que amar e não ser amada , do que querer e ser renegada , do que dar tudo e não receber nada .
Maria olha novamente a porta , de olhos vazios e cravados de lágrimas sentidas e profundas e repete vezes e vezes sem conta " um dia ele vem , um dia ele vem...

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